Vale a pena tomar a vacina de HPV na vida adulta?
A vacina de HPV é a melhor forma de prevenção contra o câncer de colo de útero, o segundo tipo que mais mata mulheres entre 20 e 49 anos no Brasil. A faixa etária indicada para a primeira dose é dos 9 a 14 anos, para garantir a segurança antes de qualquer contato com o vírus. Mas e quem já passou da idade?
Enquanto a vacinação precoce é de extrema importância, as pessoas que só tiveram conhecimento ou oportunidade de receber o imunizante mais tarde não devem ficar desamparadas. Mesmo após a faixa etária recomendada, a vacina é a maior aliada contra as doenças causadas pelo papilomavírus humano.
Casos de HPV
São conhecidos mais de 200 tipos de HPV, e ao menos 14 deles estão relacionados ao surgimento de diferentes tipos de câncer. Apesar de o câncer de colo de útero ser o mais comum, esse vírus pode causar diversas formas da doença em ambos os sexos.
O HPV é a infecção viral mais comum do trato reprodutivo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 80% da população será infectada em algum momento da vida. Segundo uma pesquisa encomendada pelo Ministério da Saúde, a taxa de infecção genital com as linhagens de alto risco no país atinge 54,4% das mulheres que já iniciaram a vida sexual e 41,6% dos homens.
No entanto, o contato com um dos tipos de HPV não garante imunidade a ele. Há evidências de que a resposta sorológica natural não gere imunidade suficiente para prevenir novas infecções. Em geral, a produção de anticorpos costuma ser em baixa quantidade e com pouca duração.
Conforme pesquisas da Universidade Johns Hopkins e outro da Universidade de Washington, o corpo produz naturalmente 50 a 60 vezes menos anticorpos do que após a vacinação. Dessa forma, adultos previamente infectados podem não estar protegidos contra novas infecções, mesmo que sejam do mesmo tipo viral.
Outro motivo para receber a imunizante é que, após o primeiro pico de incidência do HPV aos 20 anos, ocorre um segundo pico entre os 50 e 60 anos. Esse novo aumento de casos pode estar ligado a nova exposição ou à imunossenescência (diminuição de resposta do sistema imunológico com o envelhecimento). Portanto, quem não recebeu o imunizante pode estar novamente suscetível a infecções.
Por outro lado, uma pesquisa da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) mostrou que a vacina é capaz de reduzir em até 80% as chances de retorno da infecção em pessoas que já apresentaram lesões anteriormente.
Por que tomar a vacina de HPV mais cedo?
Há dois motivos para tomar a primeira dose por volta dos 9 anos. O primeiro é que a resposta imunológica do organismo é mais alta na pré-puberdade. Ou seja: nessa idade, há maior produção de anticorpos, aumentando a eficácia da vacina.
O segundo é estabelecer a proteção imunológica antes de haver qualquer contato com o vírus. Isso não significa que a vacina incentive o início precoce da vida sexual, mas que, quando ela for iniciada, o corpo reconheça e elimine a infecção. Além disso, a vacinação não está relacionada a promiscuidade. Devido à alta prevalência do HPV, é possível ter um único parceiro ao longo de toda a vida e, mesmo assim, ser contaminado.
Essas razões não impedem a ação do imunizante em outras faixas etárias. Todas as pessoas entre 9 e 45 anos podem tomar a vacina de HPV – após essa idade, ainda é possível com recomendação médica. Para meninas e meninos de 9 a 14 anos, 11 meses e 29 dias indica-se duas doses, com intervalo de seis meses entre elas. A partir dos 15 anos, são três doses: a segunda, um a dois meses após a primeira, e a terceira, seis meses após a primeira dose.