Vacina contra câncer: conheça os imunizantes que previnem a doença
O desenvolvimento de uma vacina contra câncer é um objetivo antigo da medicina. Enquanto ainda não é possível evitar todos os tipos da doença com um único imunizante, já estão disponíveis no mercado duas vacinas que protegem contra suas causas. O 8 de abril marca o Dia Mundial de Combate ao Câncer, e serve de alerta para a prevenção.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), câncer é um termo que abrange mais de 100 diferentes tipos de doenças malignas, que têm em comum o crescimento desordenado de células. Com uma divisão acelerada, essas células tendem a ser agressivas e incontroláveis, formando tumores que podem ainda se espalhar pelo resto do organismo.
Espera-se que haja 704 mil casos novos no Brasil para cada ano do triênio 2023-2025. Segundo dados do instituto, há diagnóstico de mais de 45 mil nas regiões do cólon e reto, 17 mil no colo do útero e 15 mil na cavidade oral todos os anos.
Por que ainda não há uma vacina contra câncer?
A dificuldade em criar-se uma única vacina contra câncer se dá pelo fato de ser uma doença multifatorial. Ou seja: nem sempre é possível determinar qual é a causa, e nem sempre há somente uma.
Hábitos de vida e genética têm uma grande influência na possibilidade de desenvolver a doença. Além disso, mesmo com uma “receita” de anticorpos, tratam-se de células capazes de sofrer mutações, com resultados imprevisíveis.
Nos casos em que já existem vacinas, a doença se origina de um vírus. Logo, o imunizante evita a infecção, impedindo consequentemente que surja o câncer.
Vacina contra HPV
O papilomavírus humano (HPV) é o vírus sexualmente transmissível mais comum do mundo, e sua infecção é a causa de quase 100% dos casos de câncer de colo de útero. Do mesmo modo, ele está ligado ao desenvolvimento de outros tipos de câncer, como vaginal, anal, peniano, na vulva e orofaringe.
Todos eles podem ser prevenidos com a vacina contra HPV. A quadrivalente, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), protege contra os subtipos oncogênicos 6, 11, 16 e 18. Já a nonavalente, encontrada nas clínicas particulares, protege contra os mesmos tipos e ainda o 31, 33, 45, 52 e 58.
Na rede pública podem se vacinar meninas e meninos de 9 a 14 anos; homens e mulheres transplantados; pacientes oncológicos em tratamento; pacientes soropositivos; e vítimas de violência sexual. Na rede privada, por outro lado, indica-se para pessoas de 9 a 45 anos, ou mesmo em idades superiores com recomendação médica.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que o câncer cervical pode ser o primeiro a ser eliminado no mundo, desde que a cobertura vacinal chegue a 90%. Em alguns locais, como na Escócia, por exemplo, os casos de câncer de colo de útero já foram zerados somente com o uso do imunizante.
Vacina contra hepatite B
O hepatocarcinoma é o tipo mais comum de câncer de fígado, compreendendo mais de 80% dos casos. Na maioria das vezes, ele se desenvolve a partir de uma cirrose hepática, que por sua vez está associada ao alcoolismo ou à hepatite crônica. Já o causador predominante da hepatite crônica é a infecção pelos vírus da hepatite B ou C.
A vacina contra a hepatite B tem indicação para todas as faixas etárias. Ela faz parte da rotina de vacinação infantil, com a primeira aplicação preferencialmente nas primeiras 24 horas após o nascimento. As novas doses serão aos 2 e 6 meses de vida, como parte da vacina hexavalente, ou aos 2, 4 e 6 meses, em formulação isolada.
Crianças mais velhas, adolescentes e adultos não vacinados no primeiro ano de vida devem tomar três doses, com intervalo de um a dois meses entre primeira e a segunda doses, e de seis meses entre a primeira e a terceira.
A estimativa do Inca é de 10.700 novos casos de câncer de fígado por ano, e 10.600 mortes.
Para o futuro
Novas vacinas estão sendo estudas para combater diversos tipos de câncer, e algumas já se encontram em fase de testes. Diferentemente do imunizante tradicional, elas são vacinas terapêuticas, que tratam a doença em vez de preveni-la.
Pesquisadores utilizam a tecnologia de RNA mensageiro (RNAm) para criar uma “vacina personalizada”: sequencia-se o genoma do tumor de cada paciente, codificando as mutações específicas daquele câncer para ensinar ao corpo quais células combater.
A farmacêutica Moderna, por exemplo, acredita que sua vacina contra o melanoma esteja pronta para comercialização a partir de 2025.