Vacina inédita contra hanseníase será testada no Brasil
A hanseníase, uma das doenças mais antigas do mundo, pode finalmente ganhar uma vacina. O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) recebeu autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nesta segunda-feira (14/10) para testar a LepVax.
A pesquisa terá financiamento da entidade filantrópica American Leprosy Missions (ALM), dos Estados Unidos, que incentiva o desenvolvimento da vacina desde 2002. Da mesma forma, ela terá subsídios do Global Health Innovative Technology Fund (GHIT Fund), e da Fundação de Saúde Sasakawa, ambos do Japão, além do Ministério da Saúde.
“O Brasil concentra 90% dos casos de hanseníase das Américas. A cada quatro minutos, registra-se um novo caso de hanseníase no mundo. A OMS já apontou que precisamos de novas ferramentas para controle da hanseníase e as pessoas afetadas pela hanseníase merecem uma vacina”, afirma a imunologista e líder científica do ensaio clínico da LepVax, Verônica Schmitz.
O Brasil é o segundo país com maior número de casos da doença no mundo, atrás apenas da Índia. Em dez anos, de 2014 a 2023, foram quase 245 mil novas infecções, segundo o Ministério da Saúde. Somente em 2023, foram 22.773 novos casos.
A vacina
A LepVax foi desenvolvida pelo instituto americano de pesquisa biotecnológica Access to Advanced Health Institute (AAHI), sem fins lucrativos. Essa é a primeira vacina específica contra a bactéria causadora da hanseníase, a Mycobacterium leprae.
A formulação utiliza uma das tecnologias mais modernas para a produção de imunizantes, chamada de subunidade proteica. Os testes pré-clínicos indicaram capacidade de diminuir a taxa de infecção em camundongos, além de retardar danos nos nervos quando já havia infecção instalada.
A primeira fase do estudo foi conduzida nos Estados Unidos, com 24 voluntários. Os pesquisadores observaram que a vacina conseguiu estimular a resposta imunológica e não provocou nenhum efeito adverso grave.
Desta forma, a Fiocruz realizará a próxima fase com o teste com 54 voluntários divididos em três grupos, utilizando uma dose baixa e uma dose mais alta do imunizante. Serão três aplicações, com intervalo de 28 dias entre elas. Os participantes serão acompanhados pelo instituto por um ano.
O que é hanseníase?
Os registros mais antigos dessa doença, conhecida no passado como lepra ou mal de Lázaro, têm mais de 4 mil anos. Trata-se de uma infecção contagiosa e curável, causada pela microbactéria Mycobacterium leprae, ou bacilo de Hansen.
A transmissão ocorre por meio de tosse, espirro ou fala. Entretanto, é necessário um longo período de exposição. A hanseníase apresenta um longo período de incubação, que dura em média de dois a sete anos.
A infecção causa manchas brancas, avermelhadas ou acastanhadas na pele. No entanto, essas lesões não são contagiosas.
Além disso, a doença compromete nervos periféricos, provocando perda de sensibilidade, formigamento e sensação de fisgadas. Ademais, podem surgir nódulos pelo corpo e perda de força muscular.