A gotinha chega ao fim: como fica a vacinação contra poliomielite?
A partir do dia 4 de novembro, a gotinha será aposentada em todo o Brasil. A vacina oral poliomielite (VOP, na sigla em inglês), que deu origem ao personagem Zé Gotinha, não será mais aplicada no país. Em seu lugar, entra a vacina inativada poliomielite (VIP, na sigla em inglês), e passa a ser uma “picadinha”: essa é a versão injetável do imunizante.
O anúncio da mudança ocorreu no final do ano passado e teve a data confirmada nesta semana durante a 26ª Jornada Nacional de Imunizações, no Recife. Segundo Ana Frota, representante do Comitê Materno-Infantil da Sociedade Brasileira de Infectologia, a VOP sairá de cena em menos de dois meses.
A questão entrou em discussão em 2011, e recebeu em 2023 a aprovação da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI). Recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a substituição já ocorreu nos Estados Unidos e em diversos países da Europa.
A gotinha fez parte do calendário infantil desde a década de 1960, e desde 2016, o esquema vacinal contra a pólio era de três doses injetáveis e dois reforços por via oral.
Por que acabar com a gotinha?
Segundo o Ministério da Saúde, “a decisão foi baseada em critérios epidemiológicos, evidências científicas sobre a vacina e recomendações internacionais para deixar o esquema vacinal ainda mais seguro”.
“Nos parece bem lógica a troca das vacinas”, afirmou Frota, que ressaltou que a orientação atual é de destinar o uso da VOP apenas para controle de surtos, conforme ocorre na Faixa de Gaza, no Oriente Médio.
A vacina oral contém o vírus vivo atenuado, e a aplicação é contraindicada para pessoas imunodeprimidas. Por outro lado, a versão injetável tem apenas partículas do vírus, não tem contraindicação e considera-se mais segura. Essa já é vacina que se aplica atualmente aos 2, 4 e 6 meses de vida.
Além disso, a injetável exige menos doses para completar o esquema vacinal. Com a alteração, a dose de reforço aplicada até então aos 4 anos não será mais necessária.
Como fica a vacinação contra a poliomielite?
As três primeiras doses ficam inalteradas. No entanto, no lugar dos dois reforços que aconteciam aos 15 meses e 4 anos de idade com a gotinha, haverá uma única dose injetável aos 15 meses.
Portanto, a vacinação contra a poliomielite passa a ser:
- 2 meses – 1ª dose injetável
- 4 meses – 2ª dose injetável
- 6 meses – 3ª dose injetável
- 15 meses – dose de reforço injetável
Conhecida como paralisia infantil, a poliomielite ou pólio é uma doença causada pelo poliovírus que pode ser fatal. Ela pode ainda deixar sequelas que não têm cura, como perda de movimentos, principalmente dos membros inferiores, atrofia muscular, perda da fala e insuficiência respiratória.
Apesar de não haver notificação de casos de pólio no Brasil desde 1989, as coberturas vacinais sofreram quedas sucessivas nos últimos anos. Dessa forma, é essencial manter a vacinação atualizada.